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A torre de Marfim

A Torre De Marfim

O Fórum Econômico Mundial é uma organização não governamental que realiza conferências anuais para os principais economistas do mundo, chefes de empresas e, é claro, líderes políticos. Essas reuniões são realizadas em Davos, uma pequena cidade com uma população de apenas 10.000 habitantes, localizada nos Alpes suíços, a uma altitude de 1.500 metros (ou 5.000 pés). É um lugar limpo e organizado, onde quase todos os edifícios têm uma história rica, tornando-o o local perfeito para a elite econômica e política global se encontrar em reclusão em relação ao resto do mundo.

O objetivo dessas reuniões é discutir as questões econômicas e políticas da atualidade, analisando e avaliando esses processos à medida que eles acontecem por todo o mundo. Os políticos receptivos a essas ideias são capazes de interagir diretamente com vários ativistas e muitos economistas ganhadores do Prêmio Nobel, capazes de compartilhar seus pensamentos de maneira honesta em um ambiente não restringido por sutilezas políticas. Participar do evento é considerado um sinal de prestígio; portanto, quem é convidado raramente deixa de ir. Este ano, a lista de convidados incluiu o presidente Trump e a chanceler alemã Angela Merkel. Vale a pena prestar atenção ao evento, até mesmo porque os discursos e apresentações realizadas muitas vezes são um sinal de importantes decisões econômicas e políticas que estão por vir.

O tema principal da conferência deste ano foi a mudança climática e a redução das emissões de carbono. Muitos dos oradores foram ainda mais longe, pedindo que as empresas se afastassem do que chamam de “capitalismo acionista”. O argumento aqui é que, apesar da imensa e inegável prosperidade criada pelo modelo de capitalismo acionista, as externalidades negativas resultantes a tornam teoricamente insustentável a longo prazo. Além disso, eles afirmam que a extensão do dano ambiental que está sendo feito agora excede o valor da criação de novas riquezas que estão sendo criadas.

Essas declarações são uma crítica óbvia à China e aos EUA. Pouquíssimos países do mundo dão tanta liberdade ao consumismo e à busca de ganhos de capital quanto as duas maiores economias do mundo. Independentemente de quão bem os palestrantes tenham apresentado essas ideias, isso ainda não deixa de ser um conceito fundamentalmente socialista. A única questão é se é se isso é uma utopia ou o a realidade de uma visão econômica que vem crescendo desde meados do século XIX.

Dado o sentimento dos outros participantes, não é de se surpreender que o Presidente Trump não fosse a pessoa mais querida do evento. A maioria deles expressou uma perspectiva sombria, defendendo a necessidade de cooperação internacional urgente e intervenção drástica para interromper as mudanças climáticas. Enquanto isso, o presidente Trump, ao chegar, declarou corajosamente que “este não é um momento de pessimismo”, enquanto se gabava da economia americana em expansão. Suas declarações são apoiadas por uma forte demonstração de indicadores macroeconômicos positivos. Até a percepção da população em geral é de que a economia está indo muito bem e as coisas parecem melhorar a cada dia. Os outros participantes, no entanto, não compartilharam do seu otimismo.

Muitos chefes de empresas apontaram mudanças contínuas significativas nos hábitos de consumo. Esse argumento não pode ser facilmente descartado, pois no final, são sempre os consumidores cujos votos, seja por cédula ou por dólar, são o que mantém essas elites no poder. Até o momento, essas mudanças nas preferências dos consumidores são sentidas apenas na Europa, mas o mesmo sentimento está lentamente se infiltrando nas principais cidades dos EUA. Essa tendência sugere que pode se tornar cada vez mais difícil para os políticos vencer eleições caso falhem em ao menos fingir que não estão regulamentando o capitalismo irrestrito.

Além das implicações políticas, a visão de Davos também inclui a possibilidade de gerar mudanças nas preferências dos investidores. Colocar uma carga regulatória ou tributária pesada sobre as indústrias (especialmente a manufatureira e o setor de energia) com um impacto ambiental excessivo certamente reduziria seus resultados, talvez desencorajando potenciais investidores. As propostas listadas também incluíam várias iniciativas de gastos governamentais focadas na proteção do meio ambiente e na redução da poluição. Se os líderes econômicos e políticos do mundo forem realmente forçados a seguir nessa direção em que as indústrias físicas se restringem, a única saída será o meio digital. Existe uma economia virtual crescente com um potencial imenso e ainda não totalmente realizado de crescimento econômico com impacto ambiental mínimo. Se os bens virtuais se tornarem a força motriz da economia, é possível que o crescimento do PIB possa ser sustentado, mesmo com todas as limitações da economia física real.

Do ponto de vista dos investidores, isso significa que é preciso considerar cuidadosamente os riscos de colocar posições de longo prazo em ações de empresas nesses setores de alta emissão de carbono. Embora não exista um ponto de inflexão claro à vista, há uma pressão crescente nas empresas clássicas da indústria pesada e da indústria química que devem fazer com que quem quer investir nelas pense duas vezes.